segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mas as minhas prediletas:


ESCOLA:

CHANCE

Menino magro
Do barracão
Mãe viciada
Pai ladrão
Sofre maus-tratos
De pé no chão
Olho social
Não tem função
Vão te tomar
Colocar na instituição
Te por na escola
Resolve não
Família é o forte
De qualquer cidadão
Amor não tinha
Amor tem não
Cadê solução?
Vai ser prostituta?
Vai ser traficante?
Vai ser ladrão?
Cadê sua chance
De dizer não?

(Ana Paula Marques)


AMOR FEDERAL

Menino pobre
Que vale muito
Quanto mais tiver
Maior o dote

A profissão?
Criar filhote
Quanto mais tiver
Maior a sorte

Ele vale gás
Ele vale água
Ele vale luz
Ele vale casa

Ele vale bolsa
Ele vale leite
Ele vale cesta
Não rejeite

Ele vale merenda?
Ela logo empreenda:
Comida
Mochila

Uniforme
Passagem
Material
O que falta, afinal?

Ah,
Ele vale escola
A mãe cadê?
Quer mais esmola

Trabalho não
Tem melhor função
Marido ladrão?
Vale muito na prisão

Lá vem pensão
Salário mínimo?
Pobreza não!
Esse é deficiente?

Meus Deus!
Coisa melhor, tente
Um salário pra mãe!
Do menino “doente”

Te crie na rua
Te crie na escola
Só não te entrego
Só não te nego

Que o governo
Abençoa
Sempre (que aberração!)
A mãe profissão

(Ana Paula Marques)


Pra ler e escrever

PROCUREI UMA RIMA
PRA MONTAR
UMA POESIA
FÁCIL DE ALFABETIZAR
NÃO ACHEI NADA
NEM AQUI
NEM ACOLÁ
PÉ RIMA COM CHULÉ
MAS É APELAÇÃO
PATO RIMA COM SAPO
MAS NÃO FAZ
NENHUM SENTIDO NÃO
O QUE FAZER ENTÃO?
O JEITO É
BRINCAR DE MONTAR
NUMA ORGANIZADA CONFUSÃO
QUEBRA-CABEÇA DE LETRAS
SÓ NO CARINHO E ATENÇÃO

(Ana Paula Marques)


Mapa

Frente à restrição estrita
Da linguagem cartográfica escolar
Frente à representação inócua
De símbolos, números, cores
Frente à diferenciação enlinhavada
Do movimento apático e chapado

No desenho inimitativo da criança
Vi, um dia:
A vastidão ilimitada cercada.

(Ana Paula Marques)


Vadiavaliando

A avaliação externa
Entra na escola
Mede/corta cabeças
Define políticas
Denomina a educação
Sai da escola
Mas diz:
- Sou só um instrumento
a mais...
- Sou um auxílio para reflexão
do professor...
Justiça? Seja feita!
A praga que Aquele aluno rogou
Na última prova
Caiu no professor!

(Ana Paula Marques)



A importância da escola

A sociedade precisa da escola
Pra formar o cidadão
A justiça recomenda a escola
Pro filho do ladrão

Cadê o suporte, então?
Só aparece avaliação!
Cota é enganação
Descrédito e abandono revelam a confusão

O traficante, o estuprador,
O assassino, o sequestrador,
Deixam o filho na escola
Pra botar terror

Com discurso desafiador
pais presos (melhor ainda)
Gordas bolsas, mérito devido
Ande na linha, Professor!

A criança tem direito
De destruir patrimônio, de quebrar colega e profissionais
Por que deveres, nessa sociedade
É crime, é bulling, não se ensina jamais!

Não toque, não reclame: tema!
Por que se ela for pega,
Tenha pena!Ela é só vítima do sistema!
E depois, te arrebenta!

“O professor ensina para a vida!”
E a vida o aluno ensina pro professor
O pedido de socorro, aquele abalador,
Tem na justiça o discurso mais conservador

(Ana Paula Marques)
           

Bulling da Escola de Todos

Na escola para todos
Todos entram
Menos a justiça
A igualdade
A oportunidade

O afrodescendente carente
Que tente
Porque cota
está na moda

O homossexual se exprime
(ou imprime?)
Porque homofobia (o contrário não)
é crime?

Os deficientes entraram
Por que as escolas “especiais”
acabaram
Também serviços “profissionais”

E “todo o resto”?

(Desculpem: “todos”
Porque resto é bulling)

Mas/mais (quase esqueço!)
Se esqueço, padeço!

O profissional menos
Com salário? Subsídio? Fenômenos!
Que dão (nem mais nem menos)
Aulas Tratamentos Passa-Tempos
Do “resto” menos

(Desculpem: nem “resto”
 nem “menos”,
mais que é bulling
Haja sofrimento(s)!)

Na escola menos de todos
Na sociedade de ninguém menos

(Ana Paula Marques)



O POBRE-COITADO

O pobre-coitado
Manda tomar
Depois vai desculpar
O pobre-coitado não deixa
Ninguém estudar
Mas ele vai mudar
O pobre-coitado
O Conselho Tutelar
Mandou deixar
Não pode expulsar
Tem que aceitar!
Quando, na sala, as calças tirar
É por que (coitado)
Atenção quer chamar
A escola
Vai aguentar!
Por que o pai
Droga tem que usar
A mãe
Bolsinha precisa rodar
Coitado do pobre-coitado
Que na escola quer descontar
E a oportunidade persiste em tirar
Da menina abusada pelo vizinho
Do moleque aviãozinho
Do adulto trabalhador
E do professor
Que só queriam aprender e ensinar
E seu futuro mudar
Pobre-coitado(s)!

(Ana Paula Marques)


CONFUSÕES DE ÉPOCA

Nenhum político se elege
Com promessas
de orfanatos
E sistemas prisionais

Todo político se elege
Com promessas
de escolas
E hospitais

E segue-se construindo escolas e hospitais

E segue-se educando
sem criar
Tratando
sem curar

Fique esperto!
Ao que é certo:
Não se pode nem aos pais
nem aos bandidos responsabilizar!

Punir é curar? Não sei bem,
Mas tenho a certeza de que a
IMPUNIDADE
É o mal dessa sociedade

E segue-se com
educação
sem o pai sem a mãe:
olha o órfão!

Prisão? Não!
Hospitais tratam
a agressão:tiros, facadas, tráfico
contra a: população!

Insuficiente
Por que nunca irão acompanhar
Um povo-órfão-doente
Que nem sabe no que votar

(Ana Paula Marques)

Um comentário:

  1. Querida Ana Paula, escritora poeta! Parabéns!
    Adorei conhecer, ler e refletir suas poesias...
    Textos e contextos de grande sabedoria.
    Continue compartilhando conosco a sua arte!
    Grande abraço,
    Vera

    ResponderExcluir