segunda-feira, 15 de outubro de 2012



Mais poesias, agora sobre:

VIVÊNCIAS:

Óculos escuro

Comprei um óculos escuro
Só para tirar
A ofuscação do seu olhar

Comprei um óculos escuro
Pra enxergar
O tempo que você não viu passar

Quem sabe assim
Vai dar pra ver
Aquilo que nunca
Percebi em você?

Quem sabe assim
Vou encontrar
Fora da luz
O brilho do seu olhar?

Comprei um óculos escuro
Para na noite do dia envolver
Meu amor por você

(Ana Paula Marques)


Fobia estranha

Às palavras insulto
Pela sua maneira indecorosa
De sempre se acharem suficientes
Em traduzir tudo

Com fobia de palavras quero então exilar-me
No silêncio impenetrável das minhas entranhas
Na coma indizível
No pensamento intraduzível

Não quero mais dizer nada
Só quero sentir
Só quero olhar
A censura apreciar

Não quero traduzir o mundo
Não quero explicar a vida
Não quero encontrar saída

Só quero sentir
Essa fobia estranha
De manha tamanha
Do não dizer

Só quero sentir
Essa fobia estranha
De manha tamanha
De querer você

Sem as palavras
Pra cortar o prazer
Vou te querer
No meu silêncio

Ter aquecer
Com minha pele
Com a boca te envolver
Com um beijo emudecer

Só pra escrever
Com tinta transparente
Sem marcas sem registro
Meu amor em te ver.

(Ana Paula Marques)


Pele

Outro dia senti na pele o vazio do mundo...
É ela o muro que nos separa da realidade
É ela a barreira que nos distingue do outro, no fundo
É ela o limite da minha atividade
Da alteridade
Da agilidade
Da espiritualidade?

Um arrepio me passou pela pele.

Também é ela
a porta escancarada
da saída
e da entrada
da vida.

(Ana Paula Marques)


O CÂNCER
O câncer é como uma maçã
Que apodrece

Tudo vai escurecendo por dentro
A fruta perde sua consistência
Sabor? Não existe mais
Ser provada? Jamais!

A aparência degenera
Murcha
Encroa
Degrada
No meio das rugas e verrugas
Observa-se a pele estragada.

Indiferente ao processo
Por dentro já escura
Encontra-se a semente, intacta
Talvez até mais madura
Pensando, calada,
Em aproveitar
A terra agora estercada

(Ana Paula Marques)

Marte
Alguns viram um rosto humano,
Outros viram pirâmides
Outros viram vegetação
Há os que juram ver marciano.

Em ti, pequeno planeta vermelho
Vejo com muito desespero
Desertos frios
e pólos de gelo

Se o zelo
Não aprendermos
Como ti logo pareceremos
Já que a poluição não combatemos

(Ana Paula Marques)


Sentindo na pele

Outro dia senti na pele meu limite!
É ela o muro ao real
É ela a barreira à Afrodite
É ela a separação espaço-temporal

Um arrepio na pele
Um portão.
Reação?
Emoção.

(Ana Paula Marques)


Descrição

Certo dia, resolvi:
me descrevi
no papel.
Não cabia...
eu já sabia!

Novas folhas trazidas.
Muitas folhas
Mar de folhas esquecidas

Folhas-mortas
Árvores-mortas
Brancura
em pilha

Descrita!

(Ana Paula Marques)


VIDA PRÉVIA

Preconceito
Pré conceito
Conceito prévio

Ser negro
Ser mulher
Ser feio
Ser deficiente
Ser homossexual
Ser diferente
Ser gordo
Ser imigrante
Ser doido

Não são conceitos
São formas de ser
Ser vivo.

(Ana Paula Marques)

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